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CAPÍTULO 4 - A BICICLETA MAGNÉTICA e O INVENTOR
CAPÍTULO 4 - A BICICLETA MAGNÉTICA e O INVENTOR

                O instinto de cavaleiro o havia levado a pensar em montaria para chegar ao centro da cidade blindada, porém cavalos também flutuariam ao tocar no solo, como posso fazer isso? Martelava em sua mente que tinha inserções de memória e ia tornando aos poucos tudo mais claro, lembrou-se que o capataz tinha notado que seu dialeto era de um morador da cidade blindada enquanto conversaram, e porque essa obceção em chegar ao centro? Se perguntava, enfim. Agora já havia criatividade e inventividade abundante para pensar em uma bicicleta magnética, ela faria um campo de flutuação através de um dínamo, e o guidom se posicionaria mais negativo ou mais positivo e permitiria fazer curvas, haviam dois problemas, não se podia parar de pedalar pois o dínamo estaria ligado ao pedal, e também não teria freio, pensou, repensou mas não chegou a uma conclusão.

               Seu olhar agora já separava no meio da sucata tudo que precisaria, no final do dia, quando foi receber suas moedas, propôs ao capataz ser pago com as peças que precisasse, chegaram a conclusão de uma peça, e uma moeda por dia, e que ele poderia voltar a batalhar todos os dias. Perfeito, era tudo que o cavaleiro precisava, uma motivação, dai em diante tudo iria se recompor, olhando para sua primeira peça já imaginava como tudo ia ser, não pensava em outra coisa  mas não entendia essa determinação de querer chegar ao centro da cidade blindada.

            Hora de ser levado para fora da cidade blindada, essa era sua penitência, era como ser expulso, descartado, excretado, a angustia ia tomando conta, a sensação de estar sozinho e desprotegido, fazia lembra-lo que não foi sempre assim, mas o que teria acontecido? pensava, ao tentar conhecer os caminhos por onde o ônibus passava, distraiu-se...chegando ao portal desembarcou.

            No portal havia um banheiro público, e por uma moeda comprava-se um banho de três minutos, e direito a usar o sabonetes e barbeadores usados, além disso, uma folha de papel higiênico e outra de  papel toalha. Sentia-se melhor, pensava como é gratificante um banho de três minutos, e sentia que sua moeda tinha um forte poder de compra. Começou a caminhar sentido norte onde ficavam os excluídos, pensando em descansar, e ver se sobrava um pedaço do "filão da princesa" como era chamado o pão que eles recebiam todas as noites, e enquanto caminhava ia fazendo o projeto da bicicleta magnética, será batizada de bike-ion e terá um neodímio acionado por um dínamo, ainda não sei como parar de pedalar e não ser arremessado para fora, para frear poderia fazer uma especie de uma ancora amarrada ao quadro, mas que ancora? E ancorar aonde? Distraiu-se caminhando, quando de um susto, viu um brilho mágico, uma luz em forma humana, que linda! o que era aquilo, chegando mais perto e ainda estonteado conclui, é a bondosa mulher que doa o pão, que linda! era tudo que concluía, que linda! Chegando mais perto, a mulher ao ve-lo olha fixamente em seus olhos e exclama:

           - Até que enfim consegui encontra-lo; o cavaleiro surpreso apenas confirmava com a cabeça, dizendo:

           - Até que enfim mesmo! Sua libido o deixara completamente excitado, fantasiando loucuras em sua mente, beijaram-se calorosamente como antigos amantes, mas foram interrompidos pelos soluços do choro da bondosa mulher, ninguém entendia nada, muito menos o cavaleiro, que agora sentia-se confuso, aquele beijo despertara um sentimento que ele já tinha, começou a lembrar, é ela...

           - Venha princesa, chamou-a um de seus soldados 

           - Espere, eu conheço este homem.

           - Vossa excelência sabe que não pode ter contato físico com nenhum excluído, venha, não insista.

           O cavaleiro tentou interferir, mas tomou um choque que o desacordou, lançando-o para longe.

            Acordou com o sol queimando seu rosto, atordoado, confuso, estava confortavelmente acolhido em um colchão macio perto da fogueira, e com grande pedaço de pão ao seu lado, lembrou-se que era hora da batalha, e saiu as pressas. Embarcou e partiu mas uma vez tentando conhecer os caminhos por onde o ônibus passava, distraiu-se lembrando da princesa que apareceu em seu sonho, parecia que a conhecia mas não lembrava com nitidez.

            O dia passou voando, em sua mente o projeto da bike-ion estava quase pronto, e a sensação de estar apaixonado pela princesa do sonho o fazia cantarolar canções que inexplicavelmente vinham em suas lembranças, batalha cumprida, voltou e seguiu para a praça, quando lá chegou foi saudado por todos que diziam: 

             - Você é o nosso novo líder, depois de ter beijado a bondosa mulher, você manda aqui! Então não era um sonho pensava o cavaleiro, mas não tinha nada nítido em sua mente, e ai perguntou:

              - Aonde está a princesa?

              - Hoje ela não veio, os soldados deixaram nosso pão e partiram. Quem era você antes de ser excluído?

              - Eu? Não me lembro, minha lembrança mais antiga é do dia que conheci vocês.

              - Ahahahah, riram. Não se espante, no começo agente não lembra de nada, os choques apagam nossa memória, mas aos poucos ela volta, não se preocupe. Disse Peum (P1) o mais velho do grupo.

              - Choque, não me lembro de ter tomado choque... E todos riram de novo.

              A vida do cavaleiro já tinha progredido, agora era líder de comunidade, e tinha um colchão quentinho e macio para descansar, com suas necessidades básicas supridas, ao nascer do sol, despertou muito disposto e até alegre, e com essa alegria seguiu para batalha, e do nada teve uma ideia, descobri! A ancora para a bike-ion é simples, um imã com carga oposta ao chão amarrado ao quadro, quando lançado ao solo adere, preciso desenvolver o tamanho correto para usa-lo, pois se for muito grande vai dar trabalho para desgruda-lo depois. E com esse entusiasmo foi falar com o capataz, que prontamente lhe ofereceu ajuda para concretizar o projeto.

              - Amanhã, você pega suas peças e monta sua bicicleta magnética aqui mesmo e se ficar pronta, você vai embora com ela para testa-la, disse o capataz

              Após a batalha, saiu eufórico, decorando cada palmo do caminho que faria amanhã, já não se sentia tão mal em ser excluído, ao chegar na praça, contou a novidade, e não continha a ansiedade, dormiu como se apenas piscasse os olhos e saiu para a batalha. Chegou na sucata, juntou suas peças, ficou acordado que as peças que faltavam poderiam ser usadas, em troca de uma semana de batalhas não remuneradas, não parou nem para almoçar e no final do dia a bike-ion estava pronta. Fechou bem sua armadura, despediu-se do capataz, e num impulso se lançou, completamente descontrolado, como um bebê em seus primeiros passos sai correndo, ganhava a velocidade de uma pena ao vento, a bike-ion deslizava, e a força que partia do centro a expelia para fora, apesar de toda sua habilidade em montaria, sentia-se apavorado, e foi quando notou que não podia colidir em nada, pois o campo magnético não permitia, respirou aliviado, em segundos já viu o portal chegando, e foi expelido para fora da cidade blindada, ainda tentou jogar a ancora, mas foi em vão, não deu tempo, como a bike-ion não tinha rodas ao sair da cidade blindado enterrou a frente no chão e saiu arrancando terra e capotando no mais espetacular tombo de bike já visto, o cavaleiro foi lançado a mais de cem metros do portal. Esse momento parecia uma eternidade tudo passava em sua mente, ele queria acordar mas não conseguia estava em sono profundo, via a princesa, via a guerra, tudo passando como um flash via seus pais, e se via criança, de repente acordou sendo ainda arremessado para a frente com a boca cheia de terra, caiu sentado no chão, levantou correndo para ver a bike-ion, porém atordoado, caiu de novo, ficou tentando entender as visões que teve, e começou a lembrar de sua antiga vida, o sentimento agora era de pânico, lembrou que a princesa era sua esposa e o havia traído, começou a ter calafrios, e já não tinha certeza de nada desmaiou, foi acolhido por curiosos que viram o acidente, o levantaram e o levaram para o banheiro do portal, onde se recompôs e foi ver a bike-ion, que para sua surpresa estava intacta porém bem suja de terra, tomou sua traquitana nas mãos e seguiu mancando para a praça. A princesa agora lhe conferia sentimentos de amor e ódio dentro do coração, preciso vê-la, e começou a lembrar de tudo...

             O cavaleiro milenar, foi um dos inventores do sistema anti-gravitacional que blindava a cidade, e o rei dos governantes sabendo do amor de sua filha por ele ofereceu-lhe casar-se com ela em gratidão a quem resolveu o problema da violência e vandalismo, a condição imposta pelo cavaleiro ao apresentar seu invento, é que os governantes dessem plenas condições de vida para quem ficasse fora da cidade: moradia, saneamento, alimento, saúde pública e segurança. O rei concordou com tudo, mas antes que pudesse por em prática, desapareceu sem deixar pistas, logo em seguida o cavaleiro foi pego e acusado de ser suspeito do desaparecimento do rei, e após sofrer tratamento de choque, que apagou sua memória, fizeram-no assumir a culpa, a princesa que acreditava que o cavaleiro era inocente, foi obrigada a fazer um pacto com um dos governantes, Jotaesse terceiro (JSIII), que não se conformava com o casamento da princesa, o pacto manteria o rei e o cavaleiro vivos, desde que ela anula-se seu casamento e casasse com ele, a princesa sem escolha aceitou, e assim o cavaleiro fora deixado fora da cidade blindada, mas o que Jotaesse não previa, é que a memória do cavaleiro fosse recobrada.

             O cavaleiro tinha na mente a nitida noção que teria sido traído por sua esposa, que ela tivesse ficado com Jotaesse por vontade própria, e que ele era o responsável pelo desaparecimento do rei, agora já não tinha certeza de quanto tempo fazia que ele estava perambulando fora da cidade blindada, mas com certeza já haviam se passado anos, a lembrança do casamento com a princesa, comparada com sua aparência atual, lhe conferiam anos a mais, porém não a tornaria menos linda e irradiante.

             Agora com a clareza dos fatos, só se perguntava por quê a princesa o havia beijado com tanto amor, e por quê disse até que enfim te encontrei, as dúvidas o afligiam.